Doença inflamatória crônica, muitas vezes confundida com refluxo, pode estar relacionada a alergias alimentares e requer diagnóstico precoce para evitar complicações
Estima-se que a doença afete entre 0,5% e 1% da população brasileira | Foto: CEMAD
A esofagite eosinofílica (EEo) é uma doença alérgica crônica que atinge o esôfago e tem chamado a atenção de especialistas no Brasil. Com prevalência crescente, a EEo pode acometer adultos e crianças, sendo muitas vezes confundida com refluxo gastroesofágico.
No entanto, o tratamento adequado exige um diagnóstico específico, feito por meio de endoscopia com biópsia, que revela a presença de eosinófilos — células envolvidas nas reações alérgicas.
Segundo estudos recentes, estima-se que a doença afete entre 0,5% e 1% da população brasileira, com aumento significativo nos últimos anos. O número crescente de diagnósticos está relacionado, em parte, à ampliação dos exames específicos e principalmente a difusão do conhecimento no país, mas ainda notamos um atraso importante no diagnóstico, desde os primeiros sintomas.
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De acordo com a médica alergista, Ana Flávia Bernardes, os principais sintomas da esofagite eosinofílica nos adolescentes e adultos incluem dificuldade para engolir (disfagia), dor no peito, sensação de alimento preso no esôfago e azia constante. A semelhança dos sintomas com os de outras doenças gastrointestinais, como o refluxo, pode atrasar o diagnóstico e o tratamento correto. Nas crianças esses sintomas podem ser um pouco mais inespecificos, como dor abdominal recorrente, dificuldades alimentares, demora na hora da alimentação, demanda de líquidos para ajudar a engolir, entre outros.
“A esofagite eosinofílica é frequentemente negligenciada nos diagnósticos iniciais. Muitos pacientes chegam ao consultório após anos de sintomas não controlados. O diagnóstico correto é essencial para evitar complicações, como o estreitamento do esôfago e fibroses”, explica a médica alergista Ana Flávia Bernardes.
O exame de endoscopia com biópsia é a única ferramenta para confirmar a presença de eosinófilos no tecido esofágico e a detecção precoce é fundamental para evitar danos mais graves.
A esofagite eosinofílica pode estar associada a alergias alimentares e mais frequentemente a outras doenças atópicas, como asma e rinite. Alimentos como leite, trigo, ovos e soja são os principais suspeitos por desencadear a inflamação no esôfago, sendo uma das estratégias de tratamento a restrição dos mesmos.
“O tratamento da EEo geralmente envolve a escolha entre medicação, como os corticosteroides tópicos ou a exclusão dos alimentos desencadeantes da alergia. Em casos mais severos, é necessário realizar dilatação esofágica para aliviar o estreitamento”, comenta Ana Flávia Bernardes.
Dados de hospitais em grandes centros urbanos mostram um aumento expressivo de diagnósticos de esofagite eosinofílica nos últimos cinco anos. No Hospital das Clínicas de São Paulo, por exemplo, o número de casos cresceu cerca de 30%.
“A urbanização e o aumento de dietas industrializadas podem estar contribuindo para o crescimento da doença, especialmente entre crianças e adolescentes”, afirma a médica. “É importante que pais e profissionais de saúde fiquem atentos aos sinais indicativos da doença, sintomas persistentes de refluxo e dificuldade para engolir, principalmente quando não respondem aos tratamentos tradicionais”, ressalta.