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Cientistas descobrem novos fungos escuros "invisíveis" que transformam ecossistemas

Invisíveis a olho nu e desconhecidos pela ciência até recentemente, muitos deles nunca foram observados diretamente, sendo detectados apenas por sequências de DNA ambiental.

Representação gráfica de como serima os fungos escuros se pudessem ser vistos | Foto: MykoKeys

Pesquisadores descobriram uma vasta diversidade de fungos ainda desconhecidos que habitam solos, corpos d'água e até o ar, revelando uma nova fronteira na biologia. O achado mais recente relacionado às pesquisas com "fungos escuros"aconteceu quando a então estudante de pós-graduação Anna Rosling, da Universidade de Uppsala, Suécia, investigava um fungo específico no norte do país e encontrou traços de DNA de espécies nunca antes descritas. O material genético, presente nas raízes que ela analisava, não pôde ser associado a nenhum organismo conhecido. Cientistas coletaram amostras de DNA de milhares de novas espécies de fungos nas últimas décadas e, apesar de obterem dados suficientes para colocar essas novas espécies na árvore genealógica dos fungos, nunca haviam coletado amostras físicas delas nem conseguiram cultivá-las em laboratório antes. Diferentemente do DNA, termo para a molécula em si, o eDNA refere-se às moléculas de DNA coletadas do ambiente, como aquelas encontradas no ar, solo ou água.

Esses fungos geneticamente distintos de qualquer espécie conhecida pela ciência, são chamados de fungos escuros, eles são invisíveis a olho nu, e sua presença é identificada apenas por fragmentos de DNA, que podem ser encontrados em amostras ambientais de diversos ecossistemas, desde fossas oceânicas até geleiras. Desde a descoberta inicial, cientistas em várias partes do mundo têm identificado o DNA de milhares de espécies desconhecidas usando técnicas de sequenciamento ambiental, mas a maior parte dessas espécies continua sem ser observada diretamente. A terra, a água e a atmosfera estão repletas com fragmentos de DNA de fungos que micologistas não conseguem associar com organismos conhecidos. Esses organismos escorregadios são tão disseminados que os cientistas os classificam como "fungos escuros". A expressão faz alusão à matéria escura e energia escura, entidades igualmente evasivas que habitam o universo. Como essas forças invisíveis, os fungos escuros são agentes ocultos e motores fundamentais, ilustrando a visão de E.O. Wilson sobre "as pequenas coisas que governam o mundo".


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Os fungos escuros, apesar de ainda não terem sido estudados detalhedamente, atuam de forma semelhantes a muitos outros fungos: ajudam na decomposição de matéria orgânica, reciclando nutrientes e contribuindo para o equilíbrio ambiental, funções fundamentais nos ecossistemas. Segundo Rosling, "Na sequência de DNA ambiental, há muito mais informações do que apenas os pares de bases". No entanto, os cientistas enfrentam dificuldades para identificar essas espécies, pois, embora o DNA esteja presente, os organismos completos não foram isolados em laboratório ou encontrados no ambiente.

O sequenciamento de DNA ambiental, ou eDNA, é a técnica utilizada para detectar esses fungos. Através da análise de pequenos fragmentos de DNA coletados no solo, na água ou no ar, os pesquisadores conseguem identificar marcadores genéticos específicos que indicam a presença de novas espécies. Um dos principais marcadores usados é o espaçador transcrito interno (ITS), que evolui rapidamente, ajudando a diferenciar uma espécie de outra. Contudo, mesmo com essa tecnologia, muitos desses fungos continuam sendo apenas sequências de DNA sem identificação formal.

Henrik Nilsson, micologista da Universidade de Gotemburgo, destaca que os fungos escuros podem representar uma parte significativa da biodiversidade fúngica que ainda está por ser explorada. Estima-se que apenas uma fração dos fungos existentes tenha sido descrita, e que milhões de espécies permaneçam desconhecidas. Segundo ele, "Nossa compreensão da riqueza da diversidade fúngica está realmente sendo ampliada com esses organismos escuros". Ele também publicou uma lista dos "50 fungos mais procurados", que reúne as maiores linhagens de fungos não identificados.

Esses fungos escuros representam uma revolução no estudo da biodiversidade fúngica. Embora invisíveis e pouco compreendidos, eles podem constituir uma fração significativa das espécies de fungos ainda desconhecidas. O que os torna únicos não é apenas seu papel na reciclagem de nutrientes, mas seu potencial inexplorado na descoberta de novos medicamentos, como já ocorreu no passado com a penicilina, e suas implicações em estratégias de conservação, por estarem profundamente interligados aos processos que mantêm a biosfera em equilíbrio.

Essas descobertas recentes são importantes não só pela ampliação do conhecimento sobre fungos, mas também por seu potencial impacto. Produtos químicos e medicamentos, como a penicilina, derivam de fungos, e novas espécies podem oferecer recursos similares para a medicina e outras áreas. Nilsson sugere que "Uma ou mais dessas espécies se mostrarão superimportantes para os humanos". Além disso, compreender o papel desses fungos nos ecossistemas pode ser essencial para estratégias de conservação, já que eles estão entrelaçados com os processos que mantêm o equilíbrio da biosfera. Como Rosling afirma, "Capturar essa diversidade pode nos ajudar a ter uma perspectiva mais informada sobre a conservação".

Os avanços na tecnologia de sequenciamento, como a genômica de célula única, permitem que os cientistas estudem o DNA de fungos individuais com maior precisão, mas o desafio de encontrar e isolar esses organismos persiste. A pesquisa sobre fungos escuros, portanto, continua a ser uma área promissora, com potencial para revelar novos segredos sobre a biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas terrestres.

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