O Cofre do Juízo Final, como também é chamado, tem capacidade para armazenar cerca de 4,5 milhões de amostras de sementes e atualmente já soma mais de 1 milhão de unidades.
Svalbard Global Seed Vault está localizado em Longyearbyen na Noruega | Foto: SGSV
O Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, é uma data que nos ajuda a lembrar que a luta pela erradicação da fome atravessa os séculos e permanece um desafio global. Ao longo da história, diversos cientistas têm enfrentado batalhas contínuas contra a fome e a insegurança alimentar. Entre as tentativas de solução, surgiram os bancos de sementes no início do século XX, embora a prática de conservar sementes seja muito mais antiga. A ideia de estabelecer bancos de sementes para preservar a biodiversidade e as variedades de plantas cultivadas ganhou destaque com o trabalho de Nikolái Vavílov na década de 1920.
Atualmente, há cerca de 1.700 bancos de sementes no mundo, e o Brasil figura entre os oito países com a maior coleção. O país já realizou diversos depósitos no Banco Mundial de Sementes de Svalbard, totalizando quase 4 mil amostras genéticas, incluindo arroz, milho, pimenta, cebola, abóbora, pepino, melão e melancia.
O Banco Mundial de Sementes de Svalbard (Svalbard Global Seed Vault), e conhecido por muitos nomes como, Banco do Fim do Mundo, Cofre do Juízo Final, ou mesmo Silo do Apocalípse, é o maior e o mais importante fundo para a preservação da biodiversidade agrícola global. Localizado em uma montanha na ilha de Spitsbergen, no arquipélago de Svalbard, Noruega, o banco foi inaugurado em 2008 com o objetivo de garantir a segurança alimentar mundial através da preservação de sementes de importantes culturas agrícolas. A localização remota, a cerca de 1,3 mil quilômetros do Círculo Polar Ártico, oferece condições climáticas ideais para a conservação das sementes, com o permafrost funcionando como um refrigerador natural que protege as amostras, mesmo em caso de falhas nos sistemas de refrigeração.
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O cofre foi projetado para resistir a terremotos, explosões e outros eventos catastróficos, e sua posição geopolítica estável reforça sua segurança. Com capacidade para armazenar mais de 4,5 milhões de amostras de sementes, o Svalbard Global Seed Vault mantém duplicatas de sementes enviadas voluntariamente por mais de 1.700 bancos de genes de todo o mundo. As sementes permanecem sob propriedade legal de seus depositantes, que poderão acessá-las quando necessário. A colaboração entre o governo norueguês, o Nordic Gene Resource Centre (NordGen) e o Global Crop Diversity Trust é fundamental para a operação do banco, que fornece armazenamento gratuito e de longo prazo para garantir a diversidade genética essencial para a agricultura.
O banco de sementes de Svalbard atua como uma rede de segurança contra desastres que podem ameaçar a produção agrícola, como guerras, mudanças climáticas e desastres naturais. A primeira e única retirada de sementes ocorreu em 2015, quando a guerra civil na Síria danificou o banco de genes de Aleppo. As sementes foram recuperadas e replantadas, consolidando a importância do cofre em situações de emergência.
A colaboração internacional é um dos pilares do projeto. O futuro do Svalbard Global Seed Vault depende da adaptação contínua às mudanças ambientais e da sua capacidade de manter a preservação das sementes a longo prazo. A biodiversidade agrícola garante o desenvolvimento de culturas mais resilientes às mudanças climáticas e políticas, e o papel do banco será cada vez mais importante à medida que os desafios globais aumentam. A operação do cofre continua sendo sustentada por fortes parcerias internacionais e investimentos financeiros, com o compromisso global de proteger a diversidade genética das culturas alimentares.
O Svalbard Global Seed Vault é um cofre subterrâneo projetado para a preservação segura das sementes, funcionando como uma "caixa-preta" para proteger a biodiversidade agrícola global. A arte presente na fachada do cofre, intitulada "Perpetual Repercussion", foi criada por Dyveke Sanne e possui um adorno acima da entrada; o teto da instalação mantém luzes suaves e reflexos brilhantes.
A propriedade das sementes permanece com os bancos de germoplasma depositantes, enquanto o Seed Vault apenas assegura a integridade e segurança das amostras. As sementes são armazenadas a -18 °C em embalagens especiais, e o permafrost ao redor ajuda a manter a temperatura. Embora o Seed Vault tenha enfrentado infiltração de água em 2016, melhorias foram feitas em 2019 para resolver o problema. Informações sobre as sementes são mantidas em folhas de nanofilme anexadas, assegurando uma gestão eficaz.
Ao longo da história, cientistas de diferentes partes do mundo travaram um embate contra a fome e dedicaram suas vidas a esta causa. Uma das histórias mais marcantes é a do botânico Nikolái Vavílov, pioneiro da genética e da criação de plantas, que dedicou sua vida ao combate à fome no mundo. Nascido em 1887, em Moscou, Vavílov viveu em uma Rússia marcada por secas e colheitas fracassadas, o que motivou sua missão de desenvolver plantas resistentes a condições adversas. Ele liderou expedições científicas para coletar sementes e preservar a diversidade genética das culturas alimentares, essenciais para garantir a sobrevivência de gerações futuras. Seus estudos o colocaram na vanguarda da ciência, e sua obra foi amplamente apoiada por Lenin nos primeiros anos da União Soviética.
Contudo, após a ascensão de Joseph Stalin, a sorte de Vavílov mudou drasticamente. Enquanto defendia a genética mendeliana, sua oposição ao pseudocientista Trofim Lysenko, apoiado por Stalin, levou-o a ser acusado de espionagem e sabotagem. Em 1940, foi preso pela polícia secreta soviética e condenado à morte, uma sentença posteriormente convertida em 20 anos de trabalho forçado no gulag. Ironicamente, ele morreu de fome em 1943 em uma prisão, por tentar combater esse mal com suas pesquisas.
O cerco de Leningrado (1941-1944) representou outro desafio para a equipe de Vavílov. Durante quase novecentos dias, seus colegas protegeram o banco de sementes fundado por ele, enfrentando a fome, o frio extremo, conflitos e bombardeios. Muitos morreram para salvar essa coleção vital, que resistiu e continua a existir no atual Instituto Vavílov, em São Petersburgo. Mesmo que parte de seu legado tenha sido destruída, suas contribuições à diversidade genética e à segurança alimentar permanecem influentes. Além de Vavílov, muitos outros nomes, como Mankombu S. Swaminathan, Norman Ernest Borlaug e George W. Carver, consolidaram a luta contra a fome e a insegurança alimentar. No Brasil, Josué de Castro, médico e geógrafo, é reconhecido por sua contribuição ao estudo da fome e da segurança alimentar. Ele publicou diversas obras abordando as causas da fome e defendeu políticas para sua erradicação, enfatizando a importância da agricultura sustentável e da distribuição equitativa de alimentos.