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A importância das redes de micélio na fertilidade do solo e manutenção do clima

Redes micorrizícas são estruturas filamentosas de fungos que criam uma teia subterrânea cobrindo todo o planeta, auxiliando na absorção de água e nutrientes pelas plantas.

Cerca de 90% das espécies de plantas formam simbioses com esses fungos | Foto: SPUN


Um extenso sistema de filamentos subterrâneos formado por fungos, conhecido como micélio, cobre todo o solo do planeta e é indispensável para o equilíbrio dos ecossistemas terrestres. Essas redes, compostas por filamentos fúngicos chamados hifas — estruturas mais finas que as raízes e capazes de acessar poros menores no solo — não apenas sustentam a vida das plantas, mas também atuam como reguladores do clima e da fertilidade do solo, mitigando impactos negativos na fotossíntese e na biodiversidade.

O micélio se estende em grandes redes de células tubulares, formando uma estrutura viva e pegajosa que contribui significativamente para a estrutura do solo. De modo geral, existem duas categorias principais de fungos micorrizícos: ectomicorrizas e endomicorrizas. Nas ectomicorrizas, o fungo envolve a raiz externamente, sem penetrar, enquanto nas endomicorrizas, ele invade o interior das células das raízes, criando uma relação mais próxima.


Um grama de solo pode conter até 90 metros de micélio, e o comprimento total do micélio nos primeiros dez centímetros do solo é estimado em cerca de 450 quatrilhões de quilômetros, equivalente a aproximadamente metade da largura da nossa galáxia.


As relações simbióticas entre plantas e fungos micorrízicos, que existem há cerca de 475 milhões de anos, são fundamentais para a biosfera. Aproximadamente 80-90% das espécies de plantas formam simbioses com esses fungos. Essas interações envolvem a troca de nutrientes essenciais, como fósforo, nitrogênio, potássio, zinco e cobre, por compostos de carbono, como açúcares e gorduras. Além de nutrir as plantas, os fungos micorrízicos aumentam a resistência contra pragas e patógenos, ajudam na tolerância a metais pesados e na absorção de água. Para otimizar os resultados dessas trocas, eles utilizam estratégias comerciais sofisticadas que direcionam recursos para locais com melhores "rendimentos" de nutrientes.

Os micélios também desempenham a função de decompor matéria orgânica, como folhas, madeira e animais mortos, transformando-a em nutrientes que enriquecem o solo e favorecem o crescimento das plantas. A importância do micélio vai além da fertilidade do solo; suas redes são essenciais para reduzir em até 50% a lixiviação de nutrientes no solo, auxilia no sequestro de carbono, produzindo glomalina, uma glicoproteína produzida por fungos micorrizicos arbusculares, que retém carbono e reduz gases de efeito estufa. Estima-se que entre 5 bilhões e 17 bilhões de toneladas de CO2 sejam absorvidas anualmente pelos micélios, e eles podem armazenar até 20 vezes mais carbono do que a biomassa microbiana. A proteína glomalina também melhora a formação e estabilidade dos agregados do solo, favorecendo a aeração.


A degradação dessas redes, causada por poluição, urbanização, expansão agrícola e desmatamento, tornou-se um desafio ambiental de larga escala. A conservação dos micélios é necessária para a manutenção do clima global e o combate às mudanças climáticas. A Sociedade para a Proteção de Redes Subterrâneas (SPUN) trabalha para mapear e proteger essas redes, usando aprendizado de máquina para prever a distribuição da biodiversidade do micélio e identificar áreas críticas para conservação.

Além disso, as redes micorrízicas comuns (CMNs) estão sendo estudadas para entender seu papel na facilitação do fluxo de nutrientes e carbono, na mediação das relações entre plantas e na proteção contra patógenos. Pesquisas em andamento buscam explorar como essas redes podem permitir a comunicação entre plantas e ajudar na adaptação a ataques de insetos.

Em linhas gerais, as redes de micélio são vitais para os ecossistemas terrestres, sustentando a saúde do solo e das plantas, regulando o clima e desempenhando um papel essencial na captura de carbono. A conservação dessas redes é fundamental para a sustentabilidade ambiental e o enfrentamento das mudanças climáticas.

Estudos também têm destacado a importância das simbioses micorrízicas para a agricultura. Essas associações entre plantas e microrganismos benéficos são cruciais para a qualidade do solo e a produtividade das culturas, impactando fatores químicos, físicos e biológicos do solo. Benefícios como a fixação de nitrogênio, a solubilização de fósforo e o controle de pragas são promovidos por essas interações. Apesar do conhecimento antigo sobre simbiose micorrízica, muitos produtores ainda não aplicam práticas para preservá-las.

Promover técnicas que favoreçam a agricultura regenerativa e produtiva é fundamental para melhorar os sistemas agrícolas. Na soja, por exemplo, a escolha de espécies de micorrizas tolerantes a condições adversas pode aumentar em cerca de 15% a eficiência na absorção de fósforo e favorecer a nodulação de bactérias fixadoras de nitrogênio, contribuindo para até 80% do crescimento da soja, especialmente em solos tropicais deficientes em nutrientes.

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